terça-feira, 19 de novembro de 2024

Lojas de conveniência

O problema dessas lojas de conveniência é que você vai lá e o atendente diz: "muito conveniente o senhor por aqui!"

E quando você tentar responder, ele dirá: "você só vem aqui porque é conveniente para você!"

Então um dia de chuva, um dia super difícil, você faz um enorme esforço para ir lá, bem de noite, a loja quase fechando, o atendente então diria: "mas agora? Que inconveniente..."

Faça um redação contendo pelo menos duas figuras de linguagem

O ano era 2150, em um futuro sombrio e devastador, um homem andava pela rua do centro da cidade quando foi abordado por um assaltante.

Estupefato com a situação, o rapaz percebeu a arma de phasers quânticos e tremeu enquanto o meliante dava a ordem:

- Passe-me todos os seus dinheiros e posses!

Sem ter o que fazer, a vítima precisou recorrer à sua única habilidade: o poder da palavra.

Pois sabe-se, nesse futuro,   frases e ditados são utilizadas como armas de grande efeito, a correta combinação de adjetivos e verbos pode até ser mortal.

E aqueke homem, vítima do assalto, não era uma pessoa comum. Era um soldado treinado na arte das figuras de linguagem, ex-combatente do exército da prosa brasileira. Sua língua era registrada como arma de destruição em massa.

Mais que rápido, antes que o bandido pudesse esboçar reação, acabou atingido por uma metáfora niilista metafísica, algo que nem os maiores pensadores poderiam imaginar:

"A existência é como um espelho em um quarto sem luz: reflete o que não está lá, esperando que o próprio vazio lhe conceda um propósito."

Ainda balançava a cabeça o assaltante, lotado de pensamentos e referências circulares, enquanto ocorria o colapso iminente da sua arma, que caía no chão já descarregada e sem qualquer enegia.

Se arrependendo do certame, o bandito ainda tentou suplicar por sua sanidade, mas o  combatente literário, de forma até cruel, não teve pena e finalizou o seu algoz com uma sinédoque bisurada rastafári:

"O leão que ruge é a floresta que chora: cada fibra de sua juba carrega as raízes da terra, enquanto embala as folhas ao vento, sussurrando unidade ao caos."

E assim, deixando sua vítima cataléptica e hiperbárica, dispneica e catatônica, foi-se aquele homem tentando se livrar dos transtornos traumáticos daquilo que causou, que seu treinamento litúrgico inflingiu. Caminhava moderadamente sob o fundo escuro da cidade delirante, ambulâncias ao fundo, chamadas pelos transeuntes preocupados com o homem que agora murmurava: "o quê? Como assim?"

domingo, 10 de novembro de 2024

Bons fantasmas do passado

 As vezes, quando a nossa vida sai um pouco dos trilhos, a gente lembra da infância, da adolescência, de uma época em que o mundo era tão diferente, tão mais colorido e cheio de descobertas.

Um tempo de amores, de sabores, de novidades, onde tudo era incrível, todas as pessoas, inclusive nós mesmos.

Mas, na verdade, isso só uma ilusão. Naquele tempo havia também coisas ruins, dores e frustrações, aborrecimentos e problemas. A gente esquece, e isso é bom! Ficam na memória só as coisas boas.

Não percebemos hoje, mas daqui a algum tempo vamos lembrar desse ano que estamos com uma saudade tão grande, daquela época de ouro em que vivemos agora!

Espera só...

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O bife do 403...

Eram mais ou menos 11h da manhã e o interfone do prédio me acordou. Eu percebi que tinha dormido além do horário e fiquei desesperado porque o meu filho entrava na escola 12:00.

Corri para atender o porteiro que me disse que era a comida que eu tinha pedido no Ifood! Eu zonzo de sono falei "pode subir" e fui acordar o meu filho, dar banho porque ele estava todo suado, botar uniforme e o cacete.

Chegou a comida na minha porta e eu peguei a quentinha desesperado porque meu filho saindo do banho todo molhado, correndo de um lado para o outro com a camisa do uniforme na cabeça.

Vesti o pequeno, arrumei o uniforme, coloquei ele sentado e abri a comida colocando tudo em um prato fundo já gritando para ele comer tudo. Não tinha nem 20 minutos para entrar na escola.

E foi aí que eu vi que a etiqueta do pedido do Ifood dizia apartamento "403" e eu moro no "503"!

Com a cabeça ainda girando lembrei que naquele dia não tinha pedido comida. Tinha  acordado tarde e logicamente esquecido! Ainda demorou para o meu cérebro se dar conta de que eu nunca poderia ter pedido iFood dormindo, por melhor e mais avançado que seja o aplicativo!

Enquanto isso meu filho comia as batatas fritas todo feliz, apesar de eu sempre pedir purê para ser mais light e natureba.

Nessa hora eu não sabia se pedia para o meu filho comer mais rápido ou se eu tirava o prato. Resolvi ligar para o restaurante e tive que explicar para um atendente completamente atordoado que eu queria comprar um prato com carne e batatas para eles entregarem no 403 e não no meu apartamento. Ainda tinha que ser urgente, porque meu filho tinha comido o bife do vizinho por engano...

O resultado final: um rapaz veio no meu prédio e entregou a comida que eu paguei para o 403 com 20 minutos de atraso. Eu sei disso porque quase que ele entrega no local errado novamente. Ah, e meu filho chegou tarde na escola dizendo que tinha gostado de comer bife...

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Lembranças do Makro!

Dizem que a gente só percebe o melhor momento das nossas vidas depois que ele passa. Isso é verdade. Queria aproveitar este espaço para registrar ótimas lembranças que aconteceram quando eu tinha 10 anos de idade.

Naquela época, meu pai tinha uma loja de rua que vendia doces, salgados e refeições. Foi o sustento da nossa família por mais de uma década. Por muito tempo eu vi meu pai envolvido em comprar refrigerantes, sorvetes e várias outras coisas em grande quantidade. Era muito divertido receber as encomendas pela manhã e ver como tudo se arrumava.

Quando eu já estava um pouco mais crescido, meu pai perguntou se eu não queria acompanhá-lo nas suas idas aos mercados da Barra da Tijuca. Mas espera que isso requer uma explicação!

Na década de 80 havia poucos hipermercados no Rio de Janeiro, sendo a maioria deles na Barra. Meu pai preferia ir nestes locais para comprar o que a loja precisava para toda a semana. Antigamente a Barra era quase um local fantasma, o shopping existia há pouco tempo e alguns mercados grandes ocupavam áreas de aluguel barato e relativamente próximas aos grandes centros.

Nossa ida aos mercados da Barra passou a se repetir toda segunda-feira por muitos anos. Isso já era certo e eu lembrava ansiosamente desde o final de semana que faríamos aquela viagem incrível pelo alto da boa vista, a cruzada pela avenida das Américas e pela atual Ayrton Senna, finalmente descendo a Grajaú-Jacarepaguá de volta para a Tijuca, isso já tarde da noite.

A nossa primeira parada na Barra era o FreeWay, onde meu pai preferia comprar arroz, óleo e outras coisas em quantidade. Era mais barato, mas não era o objetivo principal.

No Carrefour o grosso das compras era feito. A gente sempre comprava um monte de bobagens na hora: biscoitos, chocolates e qualquer outra coisa nova que a gente encontrava.  Naquela época essa era a única oportunidade de ter contato com produtos importados.

Na saída do Carrefour o carro já estava abarrotado com caixas e sacolas. Muito arroz, feijão, macarrão e quantidades absurdas de tudo. Mas ainda havia uma última etapa a ser religiosamente cumprida: o Makro.

No antigo supermercado Makro a gente parava para comprar produtos especiais no atacado. Naquela época só podia entrar nesse mercado se você fosse lojista e não podia levar crianças. Meu pai dizia que eu tinha 15 anos e acabavam deixando a gente entrar.

Comprávamos chicletes, doces e outras coisas para vender na loja. Eu gostava de ir em cima daquele carrinho de compras diferente que tinha no Makro, que mais parecia um guincho. Era muito legal!

Posso dizer que vivi a história do Brasil naquelas segundas de Barra: durante o desabastecimento do plano cruzado, eu e meu pai lutávamos para conseguir comprar mantimentos básicos que sumiam das prateleiras, durante o plano Collor muitas marcas importadas apareceram e durante o plano Real nós fazíamos contas com a URV, moeda provisória atrelada ao dólar.

Em uma dessas idas no Makro meu pai se apaixonou por um aparelho de som com toca-fitas e rádio e comprou na hora! Foi um dia ainda mais legal, porque a gente chegou em casa e montou o aparelho na sala onde ele ficou por tantos anos.

Ao final das compras a gente sempre parava no restaurante e lanchonete do Makro: uma mistura da fast food com bandejão. Nem lembro o que a gente comia, mas era tão divertido!

A volta era demorada e as vezes a gente pegava engarrafamento. A chegada de volta na loja, que tinha ficado funcionando com a minha mãe no caixa, era trabalhosa para guardar toda aquela quantidade de coisas que a gente havia comprado. Mas naquela época tudo isso para mim era diversão!

Muitos anos se passaram e ir até a Barra começou a não valer mais tanto a pena. O próprio comércio do meu pai foi ficando mais difícil com as eternas crises econômicas brasileiras e ao final de 2002 a loja fechou de vez.

O que ficou disso tudo foi a saudade e as boas lembranças dos tempos que não voltam mais. Um momento tão feliz da minha vida, mas que eu nem me dei conta que lembraria décadas depois. 

Mas tudo bem! Eu e meu filho hoje vamos ao mercado e ele não perceberá o quanto isso é precioso. É a vida seguindo seu caminho...