terça-feira, 29 de setembro de 2020

Lembranças do Makro!

Dizem que a gente só percebe o melhor momento das nossas vidas depois que ele passa. Isso é verdade. Queria aproveitar este espaço para registrar ótimas lembranças que aconteceram quando eu tinha 10 anos de idade.

Naquela época, meu pai tinha uma loja de rua que vendia doces, salgados e refeições. Foi o sustento da nossa família por mais de uma década. Por muito tempo eu vi meu pai envolvido em comprar refrigerantes, sorvetes e várias outras coisas em grande quantidade. Era muito divertido receber as encomendas pela manhã e ver como tudo se arrumava.

Quando eu já estava um pouco mais crescido, meu pai perguntou se eu não queria acompanhá-lo nas suas idas aos mercados da Barra da Tijuca. Mas espera que isso requer uma explicação!

Na década de 80 havia poucos hipermercados no Rio de Janeiro, sendo a maioria deles na Barra. Meu pai preferia ir nestes locais para comprar o que a loja precisava para toda a semana. Antigamente a Barra era quase um local fantasma, o shopping existia há pouco tempo e alguns mercados grandes ocupavam áreas de aluguel barato e relativamente próximas aos grandes centros.

Nossa ida aos mercados da Barra passou a se repetir toda segunda-feira por muitos anos. Isso já era certo e eu lembrava ansiosamente desde o final de semana que faríamos aquela viagem incrível pelo alto da boa vista, a cruzada pela avenida das Américas e pela atual Ayrton Senna, finalmente descendo a Grajaú-Jacarepaguá de volta para a Tijuca, isso já tarde da noite.

A nossa primeira parada na Barra era o FreeWay, onde meu pai preferia comprar arroz, óleo e outras coisas em quantidade. Era mais barato, mas não era o objetivo principal.

No Carrefour o grosso das compras era feito. A gente sempre comprava um monte de bobagens na hora: biscoitos, chocolates e qualquer outra coisa nova que a gente encontrava.  Naquela época essa era a única oportunidade de ter contato com produtos importados.

Na saída do Carrefour o carro já estava abarrotado com caixas e sacolas. Muito arroz, feijão, macarrão e quantidades absurdas de tudo. Mas ainda havia uma última etapa a ser religiosamente cumprida: o Makro.

No antigo supermercado Makro a gente parava para comprar produtos especiais no atacado. Naquela época só podia entrar nesse mercado se você fosse lojista e não podia levar crianças. Meu pai dizia que eu tinha 15 anos e acabavam deixando a gente entrar.

Comprávamos chicletes, doces e outras coisas para vender na loja. Eu gostava de ir em cima daquele carrinho de compras diferente que tinha no Makro, que mais parecia um guincho. Era muito legal!

Posso dizer que vivi a história do Brasil naquelas segundas de Barra: durante o desabastecimento do plano cruzado, eu e meu pai lutávamos para conseguir comprar mantimentos básicos que sumiam das prateleiras, durante o plano Collor muitas marcas importadas apareceram e durante o plano Real nós fazíamos contas com a URV, moeda provisória atrelada ao dólar.

Em uma dessas idas no Makro meu pai se apaixonou por um aparelho de som com toca-fitas e rádio e comprou na hora! Foi um dia ainda mais legal, porque a gente chegou em casa e montou o aparelho na sala onde ele ficou por tantos anos.

Ao final das compras a gente sempre parava no restaurante e lanchonete do Makro: uma mistura da fast food com bandejão. Nem lembro o que a gente comia, mas era tão divertido!

A volta era demorada e as vezes a gente pegava engarrafamento. A chegada de volta na loja, que tinha ficado funcionando com a minha mãe no caixa, era trabalhosa para guardar toda aquela quantidade de coisas que a gente havia comprado. Mas naquela época tudo isso para mim era diversão!

Muitos anos se passaram e ir até a Barra começou a não valer mais tanto a pena. O próprio comércio do meu pai foi ficando mais difícil com as eternas crises econômicas brasileiras e ao final de 2002 a loja fechou de vez.

O que ficou disso tudo foi a saudade e as boas lembranças dos tempos que não voltam mais. Um momento tão feliz da minha vida, mas que eu nem me dei conta que lembraria décadas depois. 

Mas tudo bem! Eu e meu filho hoje vamos ao mercado e ele não perceberá o quanto isso é precioso. É a vida seguindo seu caminho...