quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A Glauciana está?

Alguma Glauciana pegou dinheiro no Itaú e deixou o telefone aqui de casa no cadastro como se fosse residência dela. Agora, que aparentemente as parcelas do tal empréstimo estão atrasadas, o banco liga para a minha casa o dia inteiro desesperado.

Eu já disse que não tem nenhuma Glauciana aqui em casa, mas eles não entendem e continuam ligando. Hoje foram cinco tentativas.

Em uma dessas ligações, a atendente, muito comportada, me disse que "foi engano". O tom mudou completamente quando eu falei que "não era engano", que eles estavam "enchendo o saco". Ela danou-se a se irritar comigo.

Parece que eles não gostam muito quando o outro lado incomoda dizendo bobagens. Que coisa!

A próxima vez vou dizer que Glauciana morreu, eu matei e vocês do Itaú são os próximos! Ei! Boa ideia para um episódio de Dexter...

terça-feira, 12 de junho de 2018

Memórias estáticas

Sonhei com uma música antiga, que eu nem gostava, mas que me levou à infância. Ainda dormindo eu sabia, certinho, onde poderia encontrar o disco de vinil e em qual faixa aquela canção chatinha estava gravada. Me vi abrindo o armário mais baixo da minha casa, logo na entrada próximo à porta, puxando um a um aqueles grandes retângulos, cada um com uma história.

Acordei triste porque este local, cheio de discos antigos, não existe mais. Estava lá só quando eu era pequeno. O apartamento foi vendido. Os móveis, discos, sabe-se lá que fim levaram. Nada disso existirá novamente, não faz parte do mundo em que vivemos.

Mas a tristeza durou pouco, porque eu sei onde encontrar tudo isso novamente. Volto a dormir sorrindo, pois a estante de discos está lá, pronta para ser bisbilhotada. O local ainda persiste, forte e límpido na minha memória, onde ele mais importa.

Assim como todos os detalhes daquele apartamento de fundos, da rua Costa Pereira: as janelas com grades oxidadas, o piso da cozinha, pequeno e azul escuro. O banheiro verde com azulejos diferentes cheio de adesivos, o sinteco fosco e a televisão no centro da sala.

Está tudo lá, ao acessar da minha memória. Momentos felizes e outros nem tanto. Não posso modificá-los, não posso interagir, apenas observar minha mãe corrigindo provas, em uma mesa de madeira, que se abria como mágica. Posso ver meu pai fazendo anotações em uma mesinha de cabeceira perto da cama.

Posso abrir os armários e lembrar das roupas e bobagens que a gente tinha. Será essa a função das coisas? Fazer a gente lembrar de um tempo que não volta mais?

E todos estão lá, aqueles que habitavam a casa, em épocas diferentes, momentos da nossa vida: minha irmã, meus avós, amigos e vizinhos. Estão todos lá!

Acordo novamente, na minha casa, o despertador tocando e a minha vida seguindo. Lembranças novas sendo feitas, enchendo o futuro de sonhos.