ATENÇÃO! Este texto está escrito em formato de caricatura, ou seja, de forma exagerada e humorística. Apesar disso não se perde o principal objetivo: reclamar do horrível ensino que tive quando adolescente na década de 80. Vale lembrar que qualquer semelhança com a realidade deve, muito possivelmente, ser uma mera coincidência. Se você "ama" qualquer uma das disciplinas desta série de textos e não concorda com este blog sinta-se livre para comentar, ou então saia da internet e vá ler um livro!
Esta é uma série de textos destinada a falar mal, e muito, do ensino no Brasil. Leia a introdução para entender os objetivos e se não tiver mais o que fazer dê uma lida no descascado que dei em História e Geografia.
Agora, vamos falar mal de Português! Por onde começar? Bom, primeiro pelo correto nome da disciplina, que para parecer mais pomposa é chamada Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Tenho, então, que criticar duas matérias, a primeira parte que inclui gramática, ortografia, regência, interpretação e a segunda que inclui, obviamente, livros.
Focando-se na primeira parte, pode até parecer difícil descer a lenha em quem ensinou a escrever os ácidos textos deste Blog. E realmente seria, não fosse exatamente este o problema.
Em todos os meus estudos de Português, na maioria do tempo dava-se elevada importância a classificar palavras ou frases usando algum tipo de lógica. Análise sintática, classes gramaticais, conjunções e tempos verbais são exatamente isso, métodos de classificação. Na vida prática, para que serve tudo isso?
Embora possa parecer relevante começar esta frase com uma bela conjunção concessiva, certamente seria melhor focar no correto uso desta dentro de um texto. No entanto, este nunca foi o objetivo da matéria, como mostra esta oração coordenada adversativa. Ensinaram-me, com ênclise, regras idiotas sem qualquer utilidade, especificamente para cobrar em prova e fazer todos acreditarem que aprenderam.
Temos tantos jornalistas que escrevem muito bem sem nunca terem frequentado mais que o fundamental. São por certo autodidatas, pois mesmo que tivessem o médio completo nada teria acrescentado. Não se ensina a escrever aqui, meu filho, isso não cai na prova.
Em mais de dez anos de Português, quase nunca coloquei em prática o que aprendi, só tinha que decorar as regras para passar de ano. Tempos verbais, conjunções e gramática foram uma dor de cabeça para muitos colegas meus, mas não para mim. Desde muito cedo abandonei a ideia de que havia sentido em tudo isso e meu objetivo era memorizar as regras. Depois, bastava fazer intermináveis exercícios e deixar bem firme a decoreba para o dia da prova, apagando tudo no dia seguinte.
Só que uma coisa falhou, não consegui apagar tudo. Ainda lembro todas as conjugações inúteis de "ser" e "haver" e posso desfilá-las para deleite de meus antigos professores. Com a mesma relevância em memorizar os feitiços do Harry Potter, posso enumerar de cor o imperativo "sê tu, seja você, sejamos nós, sede vós, sejam vocês". Obliviate!
Fi-los porque qui-los à parte, os professores de português deveriam deixar de lado este sem número de exceções e regras sem sentido, que ocupam a maior parte da matéria, e ensinar a escrever de verdade. Todos os bons alunos que terminam o fundamental deveriam ser capazes de elaborar pequenas histórias e agrupar seus pensamentos de forma clara e concisa. O fato é que a maioria não consegue, e ainda tem gente que tem a audácia de culpar os alunos. Pergunte para eles sobre as conjunções e preposições que se notará onde o tempo da disciplina foi desperdiçado.
Se eu não tivesse aprendido tempos verbais como se fosse a receita para fazer ouro, hoje não saberia que a primeira frase deste parágrafo está no pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo. Mas eu trocaria toda esta "sabedoria" por ter sofrido menos para aprender a escrever, para ter desenvoltura em elaborar um Email ou uma carta. Não é justo que a vida e o dia-a-dia tenham sido melhores professores. Tanto tempo perdido!
E no ensino médio o pior ainda estava por vir. A literatura. A segunda parte da disciplina de português ganha o troféu abacaxi da educação por conseguir obrigar alunos a ler os livros mais chatos disponíveis, só porque alguns professores consideram o estilo dos autores muito bonito. É cultura? Sem dúvida. Assim como pintura, cinema e música. Alguém já te obrigou a ouvir uma música ou a ver um filme que você não gostasse?
Esta é uma boa comparação. Pegue um filme que a maioria considera muito bom, como o paciente inglês de 1996, e obrigue todos os seus amigos a assistir. Segundo o IMDB, 27% deles não vão gostar. Agora obrigue estes que não gostaram a fazer trabalhos valendo nota e provas sobre o arrastado enredo do filme. Sarcástico? Era assim que eu me sentia tendo que ler Machado de Assis e Álvares de Azevedo.
Assim como tenho todo direito de ter a minha opinião e estar entre o seleto grupo que não gostou do paciente inglês, tenho todo o direito de respeitar o estilo de Machado e não gostar nem um pouco de seus livros. O chato é que eu não pude deixar de ler, pois tudo isso caiu no vestibular e em inúmeras provas. Tratam literatura como se fosse algum tipo de cálice sagrado da vida e lógico que não é.
Muitos dizem que eu tenho que ler para aprender a escrever, mas será que eu não poderia ter escolhido os meus próprios livros, assim como eu escolho o estilo dos filmes que quero assistir? Sugira esta ideia aos professores e eles vão dizer que isso dificultaria muito a avaliação. Mais uma vez, para facilitar a provas dificulta-se a vida dos alunos.
Para escrever bem, muito melhor é praticar, e para isso deveríamos colocar os alunos para redigir pequenas redações e depois grandes textos, ao invés de martirizá-los com tantas regras fúteis. O ensino deveria desligar-se do culto à forma, à regência, à ortografia e ensinar estilo, coerência, clareza e concisão. Muito mais importantes.
A disciplina falha pois assim como de praxe na nossa educação formal, foca-se no que nada serve para a vida prática e se esquece o principal. Muito pior que História e Geografia, o ensino de Português deixa danos irreparáveis em uma juventude que não sabe escrever, ou que precisa aprender na brutalidade do mercado de trabalho, muito mais hostil do que a sala de aula. Peca em se preocupar mais com a forma do que com o conteúdo, mais com as crases do que com a capacidade de interpretação, mais com a regência do que com o estilo, mais com a ortografia do que com a habilidade de organizar ideias. Uma pena, pois ensinar a escrever é uma das mais importantes tarefas do ensino fundamental e médio.
Mas que Merda, Sr. Professor!