terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mas que merda, Sr. Professor! - Geografia

ATENÇÃO! Este texto está escrito em formato de caricatura, ou seja, de forma exagerada e humorística. Apesar disso não se perde o principal objetivo: reclamar do horrível ensino que tive quando adolescente na década de 80. Vale lembrar que qualquer semelhança com a realidade deve, muito possivelmente, ser uma mera coincidência. Se você "ama" qualquer uma das disciplinas desta série de textos e não concorda com este blog sinta-se livre para comentar, ou então saia da internet e vá ler um livro!
Chegamos à terceira parte da série "mas que merda, Sr. Professor!". Atenção! Este não é um texto para falar mal de professores, mas para reclamar do ensino de forma geral. Para entender melhor esta série de textos leia aqui a Introdução. Leia também o texto sobre História.

Ah, Geografia! Geo de terra e grafia de escrita. O que poderia ser uma grande lição sobre as relações do homem com a natureza torna-se, por mérito deste ensino horrível que temos, uma infinidade de decorebas, mapas, vegetações e tipos de solo. Um desastre!

Tudo começa com o primeiro segmento do ensino fundamental: a professora mostra o mapa do Brasil e a gente pinta os estados. Meio como aula de artes, separa-se a região norte, sul, sudeste e centro-oeste.

Depois disso fala-se sobre o clima, as estações do ano, os planetas e o sistema solar. O disciplina se forma, na cabeça do aluno, como uma mistura de história, biologia, física e astronomia. Tanta coisa junta tem tudo para dar errado.

Por causa dessa grande amplitude de conhecimentos, muitos professores antigamente escorregavam em várias licenças poéticas. Uma das mais comuns é a liberdade científica para explicar as estações verão e inverno. Até hoje muita gente, principalmente com mais de trinta anos, lembra da explicação mostrada na figura abaixo, onde a terra se "aproxima" do sol no verão e fica "geladinha" no inverno quando se afasta dele. Absurdo!


Astronomia para loucos.

A desculpa, pelo menos na minha época, é que a explicação acima era admissível para crianças menores pois é mais simples que a verdadeira, que leva em consideração a inclinação do eixo da terra. Por que não dizer que neva no hemisfério norte durante o natal por causa do papai noel? Bem mais fácil de entender.

Ouvi relatos de explicações de Geografia ainda mais malucas que esta, mas é bem possível que estes erros não mais ocorram dado a quantidade de informações que hoje estão disponíveis na internet. No meu caso, o dano está feito.

Depois das bobagens no primeiro segmento, as coisas melhoram um pouco no segundo, ou seja, na antiga quinta série. Neste momento, a disciplina de Geografia é dividida em Física e Humana. A primeira parte fica com vegetação, clima, relevo e solo, enquanto a segunda estuda a interação do homem com a natureza. Se você não lembra desta divisão é porque o seu professor, assim como o meu, esqueceu a Geografia humana e deu apenas a física.

A parte física é a preferida dos professores pois tem bem menos discussão e é mais simples de cobrar na prova. O clima temperado é diferente do tropical e pronto. Para dar menos trabalho, matam a Geografia humana e toda a parte política que liga a matéria ao mundo em que vivemos. Nada poderia ser mais sarcástico!

É triste saber que todos os anos em que o professor de Geografia me aporrinhou com vegetação, solo e rochas, poderíamos perfeitamente ter estudado o sistema de governo dos países, cultura e comportamento humano. Olha que legal! Ao invés de falar sobre pedra e plantas que nascem lá não-sei-onde podíamos ter uma disciplina que nos leve a conhecer o mundo de verdade! Mas não se preocupe, meu filho, isso não cai na prova.

O foco da matéria, pelo menos na minha época, era montanha, rio e mapas. Ah! Mapas mudos! Quantos eu preenchi da Europa, Ásia e mais cinco territórios a sua escolha. Não que isso seja totalmente inútil, mas assim como em História, dá-se demasiada importância a informações pouco relevantes, hoje facilmente encontradas no Wikipédia, enquanto a discussão sobre economia, política, cultura e sociedade, que é bem mais preciosa para o aluno, é deixada de lado.


War! Para isso serve Geografia?

Parece que as coisas mudaram recentemente e a geografia humana está ganhando terreno. O problema é que ainda há o pessoal da antiga que gosta das plantas e pedras, enquanto um grupo de resistência anda insistindo em trazer o mundo real para dentro da sala de aula. Palmas para eles. No meu caso, não tem mais jeito, Geografia foi uma infinidades de tardes fazendo trabalhos inúteis sobre relevo e clima. Tempo praticamente perdido, que hoje só serve para encher o saco de quem lê este blog.

No meu ensino médio, por exemplo, tive novamente Geografia física, para desespero de quem não aguentava mais ver a caatinga do Nordeste, o solo arenoso e as altas montanhas dos Andes. A pedra no sapato! A erva daninha de qualquer adolescente!


A caatinga do Nordeste. Geografia é a ciência que estuda plantas? 

Ainda durante o médio, a matéria passa a ter interessantes e aproveitáveis análises gráficas, pois o vestibular é cheio de questões deste tipo. Pode até parecer que chegamos a algum lugar, mas ainda acho que não. Quando eu acertava as questões gráficas nos vestibulares de Geografia usava apenas conhecimento de funções em Matemática, muito mais martelado que qualquer planta. Falando nisso, Matemática será o mais ácido dos textos desta série! Aguardem!

A disciplina falha pois deixa os detalhes relevantes de lado e foca na decoreba de mapas e vegetação, que possui questionável aplicação prática. Assim como em todo o nosso ensino, deixa-se o mundo real para escanteio e ensina-se aquilo que é mais fácil cobrar em prova. O que deveria ser uma grande discussão sobre sociedade, cultura, economia e o papel do homem no ambiente em que vivemos torna-se uma infinidade de informações desconexas jogadas ao vento.

Mas que merda, Sr. Professor!