ATENÇÃO! Este texto está escrito em formato de caricatura, ou seja, de forma exagerada e humorística. Apesar disso não se perde o principal objetivo: reclamar do horrível ensino que tive quando adolescente na década de 80. Vale lembrar que qualquer semelhança com a realidade deve, muito possivelmente, ser uma mera coincidência. Se você "ama" qualquer uma das disciplinas desta série de textos e não concorda com este blog sinta-se livre para comentar, ou então saia da internet e vá ler um livro!
Chegamos à terceira parte da série "mas que merda, Sr. Professor!". Atenção! Este não é um texto para falar mal de professores, mas para reclamar do ensino de forma geral. Para entender melhor esta série de textos leia aqui a Introdução. Leia também o texto sobre História.
Ah, Geografia! Geo de terra e grafia de escrita. O que poderia ser uma grande lição sobre as relações do homem com a natureza torna-se, por mérito deste ensino horrível que temos, uma infinidade de decorebas, mapas, vegetações e tipos de solo. Um desastre!
Tudo começa com o primeiro segmento do ensino fundamental: a professora mostra o mapa do Brasil e a gente pinta os estados. Meio como aula de artes, separa-se a região norte, sul, sudeste e centro-oeste.
Depois disso fala-se sobre o clima, as estações do ano, os planetas e o sistema solar. O disciplina se forma, na cabeça do aluno, como uma mistura de história, biologia, física e astronomia. Tanta coisa junta tem tudo para dar errado.
Por causa dessa grande amplitude de conhecimentos, muitos professores antigamente escorregavam em várias licenças poéticas. Uma das mais comuns é a liberdade científica para explicar as estações verão e inverno. Até hoje muita gente, principalmente com mais de trinta anos, lembra da explicação mostrada na figura abaixo, onde a terra se "aproxima" do sol no verão e fica "geladinha" no inverno quando se afasta dele. Absurdo!
Astronomia para loucos.
A desculpa, pelo menos na minha época, é que a explicação acima era admissível para crianças menores pois é mais simples que a verdadeira, que leva em consideração a inclinação do eixo da terra. Por que não dizer que neva no hemisfério norte durante o natal por causa do papai noel? Bem mais fácil de entender.
Ouvi relatos de explicações de Geografia ainda mais malucas que esta, mas é bem possível que estes erros não mais ocorram dado a quantidade de informações que hoje estão disponíveis na internet. No meu caso, o dano está feito.
Depois das bobagens no primeiro segmento, as coisas melhoram um pouco no segundo, ou seja, na antiga quinta série. Neste momento, a disciplina de Geografia é dividida em Física e Humana. A primeira parte fica com vegetação, clima, relevo e solo, enquanto a segunda estuda a interação do homem com a natureza. Se você não lembra desta divisão é porque o seu professor, assim como o meu, esqueceu a Geografia humana e deu apenas a física.
A parte física é a preferida dos professores pois tem bem menos discussão e é mais simples de cobrar na prova. O clima temperado é diferente do tropical e pronto. Para dar menos trabalho, matam a Geografia humana e toda a parte política que liga a matéria ao mundo em que vivemos. Nada poderia ser mais sarcástico!
É triste saber que todos os anos em que o professor de Geografia me aporrinhou com vegetação, solo e rochas, poderíamos perfeitamente ter estudado o sistema de governo dos países, cultura e comportamento humano. Olha que legal! Ao invés de falar sobre pedra e plantas que nascem lá não-sei-onde podíamos ter uma disciplina que nos leve a conhecer o mundo de verdade! Mas não se preocupe, meu filho, isso não cai na prova.
O foco da matéria, pelo menos na minha época, era montanha, rio e mapas. Ah! Mapas mudos! Quantos eu preenchi da Europa, Ásia e mais cinco territórios a sua escolha. Não que isso seja totalmente inútil, mas assim como em História, dá-se demasiada importância a informações pouco relevantes, hoje facilmente encontradas no Wikipédia, enquanto a discussão sobre economia, política, cultura e sociedade, que é bem mais preciosa para o aluno, é deixada de lado.
Parece que as coisas mudaram recentemente e a geografia humana está ganhando terreno. O problema é que ainda há o pessoal da antiga que gosta das plantas e pedras, enquanto um grupo de resistência anda insistindo em trazer o mundo real para dentro da sala de aula. Palmas para eles. No meu caso, não tem mais jeito, Geografia foi uma infinidades de tardes fazendo trabalhos inúteis sobre relevo e clima. Tempo praticamente perdido, que hoje só serve para encher o saco de quem lê este blog.
No meu ensino médio, por exemplo, tive novamente Geografia física, para desespero de quem não aguentava mais ver a caatinga do Nordeste, o solo arenoso e as altas montanhas dos Andes. A pedra no sapato! A erva daninha de qualquer adolescente!
A caatinga do Nordeste. Geografia é a ciência que estuda plantas? |
A disciplina falha pois deixa os detalhes relevantes de lado e foca na decoreba de mapas e vegetação, que possui questionável aplicação prática. Assim como em todo o nosso ensino, deixa-se o mundo real para escanteio e ensina-se aquilo que é mais fácil cobrar em prova. O que deveria ser uma grande discussão sobre sociedade, cultura, economia e o papel do homem no ambiente em que vivemos torna-se uma infinidade de informações desconexas jogadas ao vento.