Quem tem mais de 20 anos de idade, talvez 30, lembra bem as peripécias da indústria do marketing de cigarros. Uma coletânea dos comerciais de Hollywood, como a mostrada abaixo, deve ter incentivado o vício por muitas gerações.
Não há dúvida de que a propaganda estimulava o consumo. Os comerciais, como os de Hollywood, conseguiam associar o cigarro a uma vida de aventuras e alegrias. Outros, como o Free, alegavam que o produto elevaria o status cultural do consumidor.
Mas tudo isso era mentira! Ninguém que fizesse uso destes produtos teria sua vida semelhante à estes comerciais. Se era enganação, então como dava certo? Como convenciam o grande público com um argumento tão desvinculado à realidade?
Propagandas sub-liminares à parte, o grande mérito dos comerciais de cigarro, que eram muito bem produzidos, era tentar dar a impressão de que o produto poderia suprir necessidades de pessoas com problemas de confiança, auto-afirmação e auto-estima.
Os jovens, logicamente, eram o público alvo destes comerciais. Todos os atores de ambas as peças apresentadas têm perto dos 20 anos. Quem tem (ou teve) esta idade sabe que auto-afirmação é o que o adolescente mais busca, usando o cigarro como muletas.
O governo, frente aos grandes custos de saúde causados pelo tabaco, não teve dúvidas em acabar com as propagandas. O jovem, não vendo os anúncios, procurará outros meios de buscar auto-estima. A proibição não foi ruim, o cigarro causa vários tipos de câncer, enfisema e outras doenças.
Na minha opinião, a busca por auto-confiança dos jovens está hoje centrada no consumo de bebidas alcoólicas. Pior mudança não poderia ter havido. Enquanto o cigarro mata com o passar dos anos, a cerveja, por exemplo, causa grandes efeitos nocivos à saúde e ainda aumenta muito o risco imediato de acidentes, brigas e confusões.
Acho que nada impedirá o jovem estimulado por propagandas a consumir estes produtos. Você, caro leitor, se tivesse esta idade e fosse convidado à uma festinha regada à cerveja, recusaria o convite caso tivesse que pegar uma "inofensiva" carona com alguém "levemente" alcoolizado? E se nesta festa estivesse presente aquela menina(o) que você tanto gosta? Dúvida cruel?
O aumento do consumo de bebidas alcoólicas pelos jovens está associado ao mesmo tipo de estratégia aplicada aos antigos comerciais de cigarros, ou seja, incentivar as vendas do produto como forma de suplantar os problemas de auto-confiança. As campanhas continuam mostrando jovens em situações muito semelhantes, embora os cigarros tenham sido substituídos por copos, e tragadas por goles.
A regulamentação das propagandas de cerveja, mesmo que não nos mesmos moldes dos cigarros, deveria ser tratada como prioridade pela sociedade. Se deixarmos as grandes mentes do marketing associarem o consumo de bebidas alcoólicas ao sucesso e bem estar, como fazem as propagandas acima, conviveremos para sempre com acidentes no trânsito, brigas de torcida e discussões violentas.
Nada impedirá o menor de burlar a proibição de vendas, ou mesmo o maior em dirigir alcoolizado. A irresponsabilidade é típica da idade e os atos podem ser tão destrutivos como os dos adultos. Quem não lembra de algum famoso caso de acidente envolvendo menores alcoolizados?
Eu sou a favor de um controle mais rígido neste tipo de propaganda. Medidas simples, algumas adotadas ao tabaco, poderão diminuir o consumo indiscriminado e seus males, bem como o risco de acidentes:
- Restringir comerciais apenas a horários noturnos.
- Impedir que marcas de cerveja patrocinem eventos esportivos e culturais. Não é má idéia também impedir a venda durante estes eventos.
- Imprimir no rótulo da cerveja fotos de carros amassados ou outras cenas chocantes que mostrem o que o consumo pode causar.
- Obrigar que o tempo da citação "se beber não dirija" seja maior e mais clara.
- Aumentar o imposto sobre a cerveja para financiar campanhas que diminuam o consumo entre jovens, ou a direção defensiva.
Se não frearmos a propaganda, o consumo de cerveja será cada vez mais atrelado ao esporte, música e arte, ainda mais entranhado na sociedade em sua forma mais vil. Continuará usando a irresponsabilidade dos jovens para convencer que o consumo de bebidas é totalmente seguro, embora todos nós saibamos que não é.
Caso a sociedade não se convença em restringir a propaganda, novos jovens consumidores continuarão a entrar no mercado para o obter os "benefícios" alegados pelos comerciais. Será que algum destes pedirá a chave do carro ao pai para impressionar a namorada? Por quanto tempo continuaremos a deixar que o marketing incentive estes riscos?