A graduação, mestrado e o doutorado deveriam ter foco na pesquisa, no desenvolvimento de ciência, naquilo que cada aluno tem capacidade de contribuir com seu trabalho. Mas, infelizmente, nem todos compartilham desta ideia, as universidades e grande parte da comunidade docente ainda exige que se cumpram obrigações muito de longe daquilo que pode-se considerar útil para a humanidade.
O primeiro e mais importe entrave comum nas universidades brasileiras é a mania pelos formatos, pela padronização. Eu que fiz graduação, mestrado e doutorado em instituições diferentes, vivi a necessidade de me adaptar a diversas situações de texto e apresentação. Tudo uma bobagem.
Todos em nome da ABNT, associação brasileira de normas técnicas, as faculdades resolvem exigir que se os trabalhos sejam escritos seguindo manual próprio, elaborado pelos anciões das universidades, que tem o grande e enfadonho objetivo de colocar-se como pedra no sapato do aluno, arbitrando como deverão ser diagramados nossos cabeçalhos, títulos, margens, numerações, legendas e bibliografia. Tudo pelo sagrado bem da universalidade.
O pior é que a ABNT, santificada entidade dos formatos, tem seu nome pronunciado em vão, pois muito pouco tem influência nas idéias absurdas que se perpetuam nas faculdades do país. O documento que existe registrado nas normas técnicas é a NBR-14724, que em apenas 7 páginas define algumas poucas linhas daquilo que deve estar contido em um trabalho científico. Por exemplo: deve haver uma introdução, conclusão, resumo em português e em língua estrangeira. Nada de prender os formatos, apenas recomenda-se que o texto seja impresso em A4.
Como a NBR é muito genérica, as faculdades, cursos, universidades e coordenações resolveram criar, cada uma delas, um enorme manual de como escrever teses, dissertações e trabalhos de fim de curso. O manual da COPPE/UFRJ, por exemplo, possui 34 páginas e tenta colocar todos os alunos no mesmo barco furado da formatação de texto, desde a capa até a última folha.
E não ache que estas regras são apenas para ajudar os alunos sem imaginação. Se você resolver fazer diferente vai gerar um monte de problemas. Eu, por exemplo, tive que tirar, às pressas, um pequeno cabeçalho que colocava em cada página com o nome da seção e subseção que estava sendo lida.
Embora não haja nada, nas 34 páginas do manual, que impeça esta modificação, a comissão de registro me informou que todos os cabeçalhos de página devem ser iguais. Ponto final. Eu poderia até ter brigado, mas para isso precisava da assinatura do meu orientador ratificando minha formatação, e eu não achei que ele deveria ser incomodado com assunto de tamanha futilidade. Nem eu gostaria de sido importunado com isso.
Ao final do trabalho tive que imprimir minha tese quatro vezes e encadernar com capa preta e letras douradas, um texto que tinha numeração em romanos até certo ponto e arábico a partir deste. Tudo tinha que ser exatamente como idealizado na cabeça dos anciões da UFRJ, sem nenhuma vírgula fora do lugar.
A tese também inclui uma folha de catálogo, carinhosamente denominada ficha pentelhográfica. Esta parte da tese é tão meticulosamente formatada que até o espaçamento entre o título e o nome do autor tem que estar na conformidade dos padrões. Pensei até que iam colocar um papel matriz manteiga em cima da minha ficha, para facilitar a verificação, lembrando meus velhos tempos de desenho técnico.
Ficha catalográfica (ou pentelhográfica). |
A conclusão que chego é que nossas universidades ainda estão no tempo pré-internet, na época onde a padronização dos textos ajudava a encontrar mais rapidamente informações através de livros e impressos. Hoje em dia é risível que se queira procurar algo folha a folha, enquanto tudo que se escreve está no Google a alcance de um clique
Agora que cumpri todos os requisitos textuais que me impuseram e todas as bobagens de formato que molestaram minha paciência, está na hora de externar minha insatisfação. Gostaria de ter feito meus textos com capa azul, com minha foto na contracapa e com bibliografias separadas a cada seção. Queria ter impresso frente e verso, com margens diferentes para folhas pares e ímpares e com numeração contínua em arábico (romanos é o cacete). Nada disso diminuiria o conteúdo do meu trabalho.
Os alunos são os autores e, como tal, devem decidir qual a melhor forma de escrever seus trabalhos. O conteúdo deveria ser o mais importante, não a forma. Os manuais de formato poderiam e deveriam ser reduzidos à apenas uma página contendo tão somente o que deve estar presente em um texto científico. Deixem de pegar no pé do aluno na confecção de capa, enfeites e outras idiotices pois isso não é ciência, é apenas um sofrimento nada engrandecedor.