sábado, 26 de março de 2011

Transformando um antigo computador em um videogame

Nossa geração, o pessoal dos trinta, já viu passar os 386, 486, os primeiros Pentiums, os MMX, os pentium II, III IV e agora vê os dual e quad core dominarem o mercado. É bastante evolução para apenas 15 a 20 anos de computador pessoal.

Em todo este tempo, na maioria das vezes em que eu fazia um upgrade, ou seja, comprava um novo computador, o meu antigo ia para alguém que ainda não tinha um PC. Nunca consegui vender um computador usado mesmo a qualquer preço. A tecnologia faz tudo virar lixo eletrônico em um click de mouse.

Por causa do aumento no números de pessoas que possui computador, e da relativa diminuição de preço do produto, minhas últimas três gerações de PC estão aqui em casa mesmo, sendo que um está acumulando poeira e não serve para nada. Vender ou mesmo doar esta máquina está fora de cogitação, não roda nem o windows XP direito! Que dirá se for instalado algo mais moderno para as necessidades de hoje.

Resta então usar este computador para fazer estripulias usando linux, apenas para testes sem qualquer aplicação prática. Dentre estas peregrinações tive a idéia de transformar um PC antigo, um Celeron 2.66GHz, em um múltiplo videogame.

A máquina encostada possui grande poder de processamento, e embora não funcione bem com o XP Service Pack 3, pode-se rodar com folga todos os emuladores até o Playstation 1, bastando para isso possuir alguma aceleração 3D.

Colocando uma placa de vídeo RADEON 9200, que estava encostada aqui em casa, cumpri este requisito, e agora basta correr atrás de algum software que faça o "Front End" para os emuladores, ou seja, que crie uma interface fácil de usar para carregar os programas e os jogos.

Como inicialmente eu já estava inclinado a instalar um linux, tentei logo uma versão que vem com os emuladores incluídos, chamada Puppy Arcade. Abaixo há um vídeo encontrado no youtube que mostra a interface gráfica desta distribuição.


O Puppy já está na versão 10, sendo bastante fácil instalá-lo. Na verdade, você não precisa nem particionar o HD para testar, pois assim como várias distribuições de linux há um CD LIVE que pode ser baixado. O computador dá o boot direto pelo CD e carrega a interface gráfica para que você possa usar os emuladores.

Lógico que você ainda precisa baixar as ROMs, ou seja, cópias dos chips, cartuchos, CDs ou DVDs dos jogos originais. Existem muitos sites em que você pode fazer isso, entre eles o mameroms.co.cc, segaroms.co.cc, supernesroms.co.ccemulabr.com.brromhustler.netwww.rom-world.com e outros.

Com o HD, DVD ou Pendrive lotado dessas ROMs, o Puppy linux monta a unidade e você carrega os jogos clicando nos ícones na parte inferior da tela. Você pode jogar Arcade (fliperama) com o MAME, jogos de Mega Drive com o Picodrive, de Super Nintendo com o Snes9x, de Nintendo 64 com o Muppen e até mesmo arranhar games da década passada com o emulador Epsxe de Playstation 1.

O grande problema do Puppy é o mesmo de todo linux, peca na interface, na praticidade, na facilidade de configuração e na instalação de novos softwares. Depois de muito tempo consegui ajustar o sistema para ficar controlável usando-se apenas o Joystick, aspecto primordial em qualquer sistema que se propõe a ser um videogame. Mesmo assim não ficou como eu queria.

Alguns emuladores, dentre eles o muppen e o picodrive, não funcionaram muito bem no Puppy, travando e deixando a desejar em diversos momentos. Tentei buscar novas versões deles, mas sempre esbarrava na falta de desenvolvimento para linux. No final eu mesmo tinha que baixar os arquivos fontes para compilar o emulador na minha máquina, coisa que estoura a paciência de qualquer um.

Além disso, a saída de vídeo composto, necessário para ligar o computador-videogame à televisão, só funcionou depois que eu encontrei em um fórum do Ubuntu a idéia de editar um arquivo perdido no /etc/conf/. A falta de ajuda na internet para instalar ou configurar linux já é bem grande, imagina para uma versão não usual como este Puppy.

Depois de algumas semanas tentando configurar o muppen para jogar Mario64 direito, desisti do linux e resolvi instalar um windows XP antigo, sem service packs, que roda até muito bem no desgastado idoso Celeron. Já estava até pensando em fazer uma adaptação para transformar o Joystick em mouse, passando a carregar os jogos em ícones do desktop. Foi aí que eu esbarrei no software Maximus Arcade.


O Maximus não é um emulador, mas sim o chamado "Front End", um software capaz de criar uma interface gráfica para os programas emuladores. Aí é só criar um diretório para cada emulador que você quiser baixar, usando os links que eu passei anteriormente. No windows existem mais opções para emuladores, sendo o que o melhor para nintendo64 passa a ser o project64 e o melhor para Mega Drive passa a ser Fusion. Todos os outros funcionam da mesma forma, bastando para tal instalar a versão windows.

O Maximus tem uma tela de configuração onde se indica o diretório e arquivo executável de cada emulador, além da pasta onde estão as roms. A partir daí você passa a controlar toda a interface com o o Joystick, incluindo escolher o jogo, rodar o emulador, sair do jogo e desligar o computador. Um exemplo de configuração para o emulador de Mega-drive é mostrado abaixo:


Para funcionar corretamente, deve-se configurar o Joystick em cada emulador por fora do FrontEnd, e no Maximus deve-se indicar uma combinação de botões para sair do jogo e voltar à interface. Aqui no meu Joystick tipo PS2, eu ajustei para isso acontecer apertando-se as teclas SELECT+START por dois segundos. Ainda configurei para dar Shutdown no computador apertando L1+R1+L2+R2 por quatro segundos, assim eu não preciso de teclado ou mouse no PC. Tudo isso deve ser feito na tela "Controller Mapping" do Maximus, mostrada abaixo (setup 1 e 2).


Para facilitar o processo, fiz todas as configurações do MAXIMUS e dos emuladores usando meu PC principal e depois copiei todos os arquivos usando a rede para o computador a ser transformado em videogame. Fazer isso funcionar direito entre dois windows é barbada, muito mais fácil do que configurar qualquer distribuição linux. Depois foi só esperar algumas horas para transferir uns 30Gb de roms que eu arrumei e passar a ter milhões de joguinhos antigos, desde aqueles da década de 80 até os mais "novos" de 2000 e pouco.

O grande Enduro do ATARI e um joginho fraquinho de PS1. (O Enduro está na esquerda!).

Colocando o computador velho atrás da minha TV de tubo tenho disponível ao clique do Joystick praticamente todos os jogos de clássicos e mais qualquer coisa que eu ainda queira adicionar. O Maximus suporta uma lista gigante de videogames e emuladores facilmente baixáveis, como 3DO, Atari 2600, 5200, 7800, 800/800XL, Atari Jaguar, Lynx, CPS3, ColecoVision, Commodore 64, DOSBox, FinalBurn, Kawaks, Odyssey, MAME, MSX, NES, Super NES, Nintendo 64, Gameboy, Dreamcast, Master System, ZX Spectrum, Neo-Geo, PS1, PS2 e muitos outros. Lógico, tudo dependendo de quanto espaço e capacidade sua máquina antiga tiver.

No meu Celeron tudo funcionou menos o emulador de PS2. Embora o Maximus dê um pouco de trabalho para configurar, foi bastante fácil considerando as cabeçadas que eu dei no puppy. No final valeu a pena todo o trabalho, que só gerou um grande inconveniente. De tanto "testar" o novo videogame eu acabei viciado em MarioKart64, que eu vou jogar assim que terminar este texto. Here we go-oo!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Mas que merda, Sr. Professor! - Português

ATENÇÃO! Este texto está escrito em formato de caricatura, ou seja, de forma exagerada e humorística. Apesar disso não se perde o principal objetivo: reclamar do horrível ensino que tive quando adolescente na década de 80. Vale lembrar que qualquer semelhança com a realidade deve, muito possivelmente, ser uma mera coincidência. Se você "ama" qualquer uma das disciplinas desta série de textos e não concorda com este blog sinta-se livre para comentar, ou então saia da internet e vá ler um livro!
Esta é uma série de textos destinada a falar mal, e muito, do ensino no Brasil. Leia a introdução para entender os objetivos e se não tiver mais o que fazer dê uma lida no descascado que dei em História e Geografia.

Agora, vamos falar mal de Português! Por onde começar? Bom, primeiro pelo correto nome da disciplina, que para parecer mais pomposa é chamada Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Tenho, então, que criticar duas matérias, a primeira parte que inclui gramática, ortografia, regência, interpretação e a segunda que inclui, obviamente, livros.

Focando-se na primeira parte, pode até parecer difícil descer a lenha em quem ensinou a escrever os ácidos textos deste Blog. E realmente seria, não fosse exatamente este o problema.

Em todos os meus estudos de Português, na maioria do tempo dava-se elevada importância a classificar palavras ou frases usando algum tipo de lógica. Análise sintática, classes gramaticais, conjunções e tempos verbais são exatamente isso, métodos de classificação. Na vida prática, para que serve tudo isso?

Embora possa parecer relevante começar esta frase com uma bela conjunção concessiva, certamente seria melhor focar no correto uso desta dentro de um texto. No entanto, este nunca foi o objetivo da matéria, como mostra esta oração coordenada adversativa. Ensinaram-me, com ênclise, regras idiotas sem qualquer utilidade, especificamente para cobrar em prova e fazer todos acreditarem que aprenderam.

Temos tantos jornalistas que escrevem muito bem sem nunca terem frequentado mais que o fundamental. São por certo autodidatas, pois mesmo que tivessem o médio completo nada teria acrescentado. Não se ensina a escrever aqui, meu filho, isso não cai na prova.

Em mais de dez anos de Português, quase nunca coloquei em prática o que aprendi, só tinha que decorar as regras para passar de ano. Tempos verbais, conjunções e gramática foram uma dor de cabeça para muitos colegas meus, mas não para mim. Desde muito cedo abandonei a ideia de que havia sentido em tudo isso e meu objetivo era memorizar as regras. Depois, bastava fazer intermináveis exercícios e deixar bem firme a decoreba para o dia da prova, apagando tudo no dia seguinte.

Só que uma coisa falhou, não consegui apagar tudo. Ainda lembro todas as conjugações inúteis de "ser" e "haver" e posso desfilá-las para deleite de meus antigos professores. Com a mesma relevância em memorizar os feitiços do Harry Potter, posso enumerar de cor o imperativo "sê tu, seja você, sejamos nós, sede vós, sejam vocês". Obliviate!

Fi-los porque qui-los à parte, os professores de português deveriam deixar de lado este sem número de exceções e regras sem sentido, que ocupam a maior parte da matéria, e ensinar a escrever de verdade. Todos os bons alunos que terminam o fundamental deveriam ser capazes de elaborar pequenas histórias e agrupar seus pensamentos de forma clara e concisa. O fato é que a maioria não consegue, e ainda tem gente que tem a audácia de culpar os alunos. Pergunte para eles sobre as conjunções e preposições que se notará onde o tempo da disciplina foi desperdiçado.

Se eu não tivesse aprendido tempos verbais como se fosse a receita para fazer ouro, hoje não saberia que a primeira frase deste parágrafo está no pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo. Mas eu trocaria toda esta "sabedoria" por ter sofrido menos para aprender a escrever, para ter desenvoltura em elaborar um Email ou uma carta. Não é justo que a vida e o dia-a-dia tenham sido melhores professores. Tanto tempo perdido!

E no ensino médio o pior ainda estava por vir. A literatura. A segunda parte da disciplina de português ganha o troféu abacaxi da educação por conseguir obrigar alunos a ler os livros mais chatos disponíveis, só porque alguns professores consideram o estilo dos autores muito bonito. É cultura? Sem dúvida. Assim como pintura, cinema e música. Alguém já te obrigou a ouvir uma música ou a ver um filme que você não gostasse?

Esta é uma boa comparação. Pegue um filme que a maioria considera muito bom, como o paciente inglês de 1996, e obrigue todos os seus amigos a assistir. Segundo o IMDB, 27% deles não vão gostar. Agora obrigue estes que não gostaram a fazer trabalhos valendo nota e provas sobre o arrastado enredo do filme. Sarcástico? Era assim que eu me sentia tendo que ler Machado de Assis e Álvares de Azevedo.

Assim como tenho todo direito de ter a minha opinião e estar entre o seleto grupo que não gostou do paciente inglês, tenho todo o direito de respeitar o estilo de Machado e não gostar nem um pouco de seus livros. O chato é que eu não pude deixar de ler, pois tudo isso caiu no vestibular e em inúmeras provas. Tratam literatura como se fosse algum tipo de cálice sagrado da vida e lógico que não é.

Muitos dizem que eu tenho que ler para aprender a escrever, mas será que eu não poderia ter escolhido os meus próprios livros, assim como eu escolho o estilo dos filmes que quero assistir? Sugira esta ideia aos professores e eles vão dizer que isso dificultaria muito a avaliação. Mais uma vez, para facilitar a provas dificulta-se a vida dos alunos.

Para escrever bem, muito melhor é praticar, e para isso deveríamos colocar os alunos para redigir pequenas redações e depois grandes textos, ao invés de martirizá-los com tantas regras fúteis. O ensino deveria desligar-se do culto à forma, à regência, à ortografia e ensinar estilo, coerência, clareza e concisão. Muito mais importantes.

A disciplina falha pois assim como de praxe na nossa educação formal, foca-se no que nada serve para a vida prática e se esquece o principal. Muito pior que História e Geografia, o ensino de Português deixa danos irreparáveis em uma juventude que não sabe escrever, ou que precisa aprender na brutalidade do mercado de trabalho, muito mais hostil do que a sala de aula. Peca em se preocupar mais com a forma do que com o conteúdo, mais com as crases do que com a capacidade de interpretação, mais com a regência do que com o estilo, mais com a ortografia do que com a habilidade de organizar ideias. Uma pena, pois ensinar a escrever é uma das mais importantes tarefas do ensino fundamental e médio. 

Mas que Merda, Sr. Professor!