quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

O passarinho

Comprei um passarinho de mentira, de brinquedo, daqueles que prendem nas coisas e balançam ao vento.www Fui mostrar para o meu filho, mas a reação dele depende muito da  idade:

Com um ano ele quase não fala, mas fica espantado. Ele pensa: como isso aconteceu?

Com três anos ele fala um pouco, e fica meio "oooohhhh".

Com cinco ele fala tudo, mas fica desconfiado. "Pousou aí, pai?"

Com sete ele já não é bobo, e diz: "mentira, isso é de brinquedo!".

Com dez ele se torna um irônico pré-adolescente e diz: "tá bom, pai, pousou sim um passarinho!".

Com doze ele nem responde, fica no celular fingindo que ignora.

Com quatorze ele olha e pensa: que coisa mais idiota...

Com dezesseis ele fica puto e diz: passarinho é o *##*#!

Ai ele fica adulto, perde-se um pouco o contato, até que um dia, lá pelos trinta, ele diz: "que legal, pai, vou fazer com meu filho também!"

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Lojas de conveniência

O problema dessas lojas de conveniência é que você vai lá e o atendente diz: "muito conveniente o senhor por aqui!"

E quando você tentar responder, ele dirá: "você só vem aqui porque é conveniente para você!"

Então em um dia de chuva, um momento super difícil, você faz um enorme esforço para ir lá, bem à noite, a loja quase fechando, o atendente então diria: "mas agora? Que inconveniente..."

Faça um redação contendo pelo menos duas figuras de linguagem

O ano era 2150, em um futuro sombrio e devastador, um homem andava pela rua do centro da cidade quando foi abordado por um assaltante.

Estupefato com a situação, o rapaz percebeu a arma de phasers quânticos e tremeu enquanto o meliante dava a ordem:

- Passe-me todos os seus dinheiros e posses!

Sem ter o que fazer, a vítima precisou recorrer à sua única habilidade: o poder da palavra.

Pois sabe-se, nesse futuro,   frases e ditados são utilizados como armas de grande efeito, a correta combinação de adjetivos e verbos pode até ser mortal.

E aqueke homem, vítima do assalto, não era uma pessoa comum. Era um soldado treinado na arte das figuras de linguagem, ex-combatente do exército da prosa brasileira. Sua língua era registrada como arma de destruição em massa.

Mais que rápido, antes que o bandido pudesse esboçar reação, acabou atingido por uma metáfora niilista metafísica, algo que nem os maiores pensadores poderiam imaginar:

"A existência é como um espelho em um quarto sem luz: reflete o que não está lá, esperando que o próprio vazio lhe conceda um propósito."

Ainda balançava a cabeça o assaltante, lotado de pensamentos e referências circulares, enquanto ocorria o colapso iminente da sua arma, que caía no chão já descarregada e sem qualquer enegia.

Se arrependendo do certame, o bandito ainda tentou suplicar por sua sanidade, mas o  combatente literário, de forma até cruel, não teve pena e finalizou o seu algoz com uma sinédoque bisurada rastafári:

"O leão que ruge é a floresta que chora: cada fibra de sua juba carrega as raízes da terra, enquanto embala as folhas ao vento, sussurrando unidade ao caos."

E assim, deixando sua vítima cataléptica e hiperbárica, dispneica e catatônica, foi-se aquele homem tentando se livrar dos transtornos traumáticos daquilo que causou, que seu treinamento litúrgico inflingiu. Caminhava moderadamente sob o fundo escuro da cidade delirante, ambulâncias ao fundo, chamadas pelos transeuntes preocupados com o homem que agora murmurava: "o quê? Como assim?"

domingo, 10 de novembro de 2024

Bons fantasmas do passado

 As vezes, quando a nossa vida sai um pouco dos trilhos, a gente lembra da infância, da adolescência, de uma época em que o mundo era tão diferente, tão mais colorido e cheio de descobertas.

Um tempo de amores, de sabores, de novidades, onde tudo era incrível, todas as pessoas, inclusive nós mesmos.

Mas, na verdade, isso só uma ilusão. Naquele tempo havia também coisas ruins, dores e frustrações, aborrecimentos e problemas. A gente esquece, e isso é bom! Ficam na memória só as coisas boas.

Não percebemos hoje, mas daqui a algum tempo vamos lembrar desse ano que estamos com uma saudade tão grande, daquela época de ouro em que vivemos agora!

Espera só...

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O bife do 403...

Eram mais ou menos 11h da manhã e o interfone do prédio me acordou. Eu percebi que tinha dormido além do horário e fiquei desesperado porque o meu filho entrava na escola 12:00.

Corri para atender o porteiro que me disse que era a comida que eu tinha pedido no Ifood! Eu zonzo de sono falei "pode subir" e fui acordar o meu filho, dar banho porque ele estava todo suado, botar uniforme e o cacete.

Chegou a comida na minha porta e eu peguei a quentinha desesperado porque meu filho saindo do banho todo molhado, correndo de um lado para o outro com a camisa do uniforme na cabeça.

Vesti o pequeno, arrumei o uniforme, coloquei ele sentado e abri a comida colocando tudo em um prato fundo já gritando para ele comer tudo. Não tinha nem 20 minutos para entrar na escola.

E foi aí que eu vi que a etiqueta do pedido do Ifood dizia apartamento "403" e eu moro no "503"!

Com a cabeça ainda girando lembrei que naquele dia não tinha pedido comida. Tinha  acordado tarde e logicamente esquecido! Ainda demorou para o meu cérebro se dar conta de que eu nunca poderia ter pedido iFood dormindo, por melhor e mais avançado que seja o aplicativo!

Enquanto isso meu filho comia as batatas fritas todo feliz, apesar de eu sempre pedir purê para ser mais light e natureba.

Nessa hora eu não sabia se pedia para o meu filho comer mais rápido ou se eu tirava o prato. Resolvi ligar para o restaurante e tive que explicar para um atendente completamente atordoado que eu queria comprar um prato com carne e batatas para eles entregarem no 403 e não no meu apartamento. Ainda tinha que ser urgente, porque meu filho tinha comido o bife do vizinho por engano...

O resultado final: um rapaz veio no meu prédio e entregou a comida que eu paguei para o 403 com 20 minutos de atraso. Eu sei disso porque quase que ele entrega no local errado novamente. Ah, e meu filho chegou tarde na escola dizendo que tinha gostado de comer bife...