O ano era 2150, em um futuro sombrio e devastador, um homem andava pela rua do centro da cidade quando foi abordado por um assaltante.
Estupefato com a situação, o rapaz percebeu a arma de phasers quânticos e tremeu enquanto o meliante dava a ordem:
- Passe-me todos os seus dinheiros e posses!
Sem ter o que fazer, a vítima precisou recorrer à sua única habilidade: o poder da palavra.
Pois sabe-se, nesse futuro, frases e ditados são utilizados como armas de grande efeito, a correta combinação de adjetivos e verbos pode até ser mortal.
E aqueke homem, vítima do assalto, não era uma pessoa comum. Era um soldado treinado na arte das figuras de linguagem, ex-combatente do exército da prosa brasileira. Sua língua era registrada como arma de destruição em massa.
Mais que rápido, antes que o bandido pudesse esboçar reação, acabou atingido por uma metáfora niilista metafísica, algo que nem os maiores pensadores poderiam imaginar:
"A existência é como um espelho em um quarto sem luz: reflete o que não está lá, esperando que o próprio vazio lhe conceda um propósito."
Ainda balançava a cabeça o assaltante, lotado de pensamentos e referências circulares, enquanto ocorria o colapso iminente da sua arma, que caía no chão já descarregada e sem qualquer enegia.
Se arrependendo do certame, o bandito ainda tentou suplicar por sua sanidade, mas o combatente literário, de forma até cruel, não teve pena e finalizou o seu algoz com uma sinédoque bisurada rastafári:
"O leão que ruge é a floresta que chora: cada fibra de sua juba carrega as raízes da terra, enquanto embala as folhas ao vento, sussurrando unidade ao caos."
E assim, deixando sua vítima cataléptica e hiperbárica, dispneica e catatônica, foi-se aquele homem tentando se livrar dos transtornos traumáticos daquilo que causou, que seu treinamento litúrgico inflingiu. Caminhava moderadamente sob o fundo escuro da cidade delirante, ambulâncias ao fundo, chamadas pelos transeuntes preocupados com o homem que agora murmurava: "o quê? Como assim?"
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