domingo, 22 de abril de 2012

Redescobrindo a televisão

Eu adorava ver TV. Qualquer coisa que passasse. Quando eu era pequeno era fissurado por desenhos animados, filmes e até novelas. Depois de uma certa idade, esgotou-se o interesse.

A televisão brasileira não diminuiu de qualidade, como muitos afirmam, ela só não evoluiu tanto quanto deveria para voltar a me atrair. Na TV aberta não há nada bom, a exceção talvez de alguns melhores episódios de A Grande Família. A Globo produz quatro ou cinco novelas medonhas, ridículas, com texto risível quando deseja fazer drama e sem graça quando tenta fazer rir.

A falta de qualidade técnica também desponta, atualmente, como um dos fatores para não se assistir TV. Na Globo, maior emissora do país, até hoje a maioria dos programas ainda está em SD (com 480 linhas). O programa do Jô e os jornais ficam todos borrados na TV digital, trêmulo. Uma droga, assim como o conteúdo.

Fora da Globo o negócio fica mais feio ainda. Programas de auditório, competições e outra imbecilidades. A RedeTV possui programação em FullHD (1080 linhas) a todo momento, um desperdício de bytes na sua telinha.

Como a evolução da TV, prometida desde a década de 80, nunca chega, cansei de esperar e em 2007 tive a ideia de cancelar a TV à cabo e utilizar o computador como central de entretenimento. Passei vários cabos entre a minha TV principal, que na época ainda era de tubo, e o PC. Levei vídeo em componente, disponível na maioria das placas de vídeo, áudio em estéreo e mais quatro vias adicionais para um mouse. Estava montado, praticamente sem custo, um sistema de conteúdo com uma capacidade incrivelmente alta, que estava a modificar para sempre a forma com que eu assisto televisão.

Vampiros estão de volta!












Recentemente, por algum motivo, resolveu-se desenterrar os vampiros de suas tumbas para empregá-los em  novos seriados de TV e filmes. Se você gosta deste tipo de ficção há muito o que ler e assistir. A indústria de entretenimento fez literalmente um pacto de sangue com o vampirismo.

O que talvez atraia o público é a mistura de vilão com mocinho. Nossos anti-heróis são atormentados pelo desejo, ao mesmo tempo que sentem culpa pelos seus atos. Muito parecido com qualquer ser humano, apenas amplificado.

Super poderosos, imortais e bonitões. Parece muito fácil fazer sucesso com este requisitos. Os vampiros estão na área desde o início do século 19, mas foi a partir da publicação de Drácula, quase no início do século 20, que os chupadores de sangue conquistaram fama mundial.

O súbito aumento de interesse no assunto não é coisa muito fácil de entender, nada de novo foi criado sobre vampiros nestes últimos vinte anos. Ainda assim, este tipo de ficção voltou a ganhar a atenção da maioria, mesmo que as histórias não passem de uma combinação das lendas que já existiam, principalmente para se adaptar aos tempos modernos.

Sobre o tema existe hoje um mercado de milhões de dólares. Cinco diferentes séries de livros, dois seriados de TV bem produzidos e alguns filmes com atores famosos. Mesmo com tanta grana e produção, há muito pouca coisa original e muitas histórias sofrem de uma repetição de padrões e pobreza intelectual.

Mas isso não significa que tudo seja de jogar fora. O sangue ainda pulsa por estas adaptações e gostaria de listar aqui minha opinião, os altos e baixos das três principais séries de vampiros. Vamos lá:

1) Crepúsculo

A maçã de crepúsculo, que o Edward
só come no quarto livro.
Esta é uma série de filmes e livros escritos por Stephenie Meyer, sendo crepúsculo apenas o primeiro deles. De todos, me pareceu o mais bem pensado, embora seja claramente voltado ao público adolescente.

Os vampiros de Crepúsculo são demasiadamente humanizados, menos monstruosos do que se espera. Podem caminhar na luz do sol, mas brilham e temem ser descobertos. Assim como em quase todas as histórias há uma preocupação em não permitir que os humanos percebam a existência de vampiros.

A trama é excessivamente romântica e descreve o envolvimento entre o vampiro telepata Edward e a esquisita adolescente Bella. O livro tem partes insuportáveis, pois é escrito em primeira pessoa e se aprofunda demais nos pensamentos da menina protagonista. Mesmo assim, tem seus bons momentos.

Os sacrifícios que ambos fazem para ficar juntos são o ponto alto da história. O ponto baixo é a falta de complexidade dos personagens, principalmente dos vampiros, dos quais sempre se espera algo mais, pois são criaturas de centenas de anos. A maioria dos sanguessugas fica entre cachorro louco e maníaco depressivo, muito pouco para um leitor de ficção como eu.

A chatinha Bella e o mais chato ainda Edward.
Falando em cachorro, o que mais instigou os leitores na série crepusculo foi o relacionamento a três entre Bella, Edward e o lobisomem Jacob. Lembro que chegou a haver um abaixo-assinado para que a mocinha desistisse do bandidão dentuço e ficasse com o lobo mal.

Bobagens adolescentes à parte, deixo minha avaliação sobre todos os quatro livros e filmes da série, mesmo que ainda não tenha visto o último que deve estar para vir a qualquer momento em 2012.


Avaliação:

História: Mediana com algumas partes boas. O quarto livro é fraco e deixa a desejar.

Regras: Não gostei dos vampiros que brilham, mas os poderes e os Volturi são interessantes.

Vampiros: Totalmente bobões. Não parecem tão sensacionais como deveriam. Muitos não tem uma boa história de fundo e parecem humanos demais.

Humanos: Piores que os vampiros. Bella não serve para nada. Nos filmes deram a ela mais importância do que nos livros.

Protagonistas: Edward é muito fraco para um vampiro, inseguro e bobão, pior que adolescente. Bella fica no mesmo nível. O relacionamento entre os dois, mesmo assim, é o ponto alto da história.

2) True Blood

Sookie é  a melhor protagonista.
Esta é uma série da HBO, canal de TV à cabo americano, baseado em um conjunto de livros chamados The Southern Vampire Mysteries. É como uma versão do crepúsculo para o público adulto, embora a história seja muito fraca.

A semelhança com crepúsculo não é mera coincidência. Em True Blood os protagonistas são uma humana telepata e um vampiro com consciência, que não é um monstro como a maioria. Muito familiar. Mais ainda quando o vampiro percebe que não pode usar seus poderes sobre a mocinha.

Como a série é feita para o público adulto, o conteúdo é bem mais forte, incluindo cenas picantes impensáveis na trama adolescente. Lembre-se que a série passa na TV à cabo, onde não se precisa manter tanta censura.

True Blood. Amigos não deixam amigos
beberem amigos.
A história é muito fraca, beirando o rídiculo. A protagonista Sookie é uma fada! Uma fada! Mesmo com tantas bobagens, dá de goleada na Bella.

A base da história é um futuro alternativo em que os vampiros saem do armário, ou seja, não estão mais escondidos. Todo mundo sabe que eles existem. Isso foi possível desde que os japoneses inventaram, e engarrafaram, sangue sintético, permitindo que os vampiros pudessem se alimentar sem matar ninguém. O problema é que o energético, chamado true blood, não é tão gostoso na garrafa quando no pescoço de jovens mocinhas. Mas isso os japoneses deveriam ter imaginado.

Roteiro terrível com uma história que chega a ser cômica. Mesmo assim, é divertido! Não perco um epísodio. A quarta temporada foi fraca, mas talvez a série volte em 2012. Assistam!

Avaliação:

História: Fraca. Parece que o objetivo de certas partes é apenas mostrar sacanagem. Nada contra.

Regras: Vampiros morrem da forma mais nojenta possível. Os mais antigos podem voar e viajar pelo tempo. Interessante. Vampiros podem morrer com uma estaca no coração e com balas de prata, como nos velhos tempos.

Vampiros: Mais complexos e bem pouco humanos. Todos pilantras, ou pelo menos quase todos.

Humanos: A maioria bem babacas. Mostrem mais vampiros que a série ficará bem melhor.

Protagonistas: Sookie é uma das melhores protagonistas, tirando o fato de ser fada. Bill, o vampiro apaixonado pela fada é muito esquisitão. Mas pelo menos é mais complexo e muito melhor que os vegetarianos que andam por aí.

3) The Vampire Diaries.

O trio de Vampire Diaries. Stefan, Damon e Elena
(ou Katherine, já que as duas são tão parecidas).
Baseado nos livros de Lisa Jane Smith, esta é uma série de TV do canal The CW. Dos três que aqui apresento, é a melhor história.

Um vampiro centenário encontra uma adolescente que se parece muito com sua antiga paixão, uma vampira que morreu há mais de um século. A semelhança entre elas é muito grande, e ele acaba se apaixonando novamente. O problema é que seu irmão também era vidrado na vampira falecida e acaba por complicar as coisas.

A trama é menos adolescente que Crepúsculo mas muito menos adulta que True Blood. Os personagens vampiros são bastante profundos e a história gira em torno do mistério da adolescente cópia da falecida vampira, que através da série é chamada Doppelgänger, ou seja, réplica. No desenvolvimento da narrativa vai se mostrando partes do quebra-cabeça que explica porque Elena, a humana, é tão parecida assim com Katherine, a vampira.

Katherine e Elena. Tão parecidas quanto as gêmeas
Phoebe e Ursula de Friends.
A personagem principal é bastante interessante, e uma ótima oportunidade artística pois a atriz precisa interpretar uma humana e uma vampira, não só nos flashbacks mas também para valer, pois no fim da primeira temporada descobre-se que Katherine não morreu! Isso nem é um spoiler, de tão previsível.

Gostei bastante dos diários de vampiros e, para mim, é a melhor adaptação dos chupadores de sangue aos dias atuais. A maluquice da história é de deixar qualquer um perdido, e os personagens são muito mais atormentados e razoavelmente profundos. O que se espera de qualquer história do gênero.

Elena ainda tem uma amiga adolescente bruxa, a Bonnie. Embora esta parte da história fique meio Harry Potter, deixa mais divertida a trama e confunde mais do que ajuda. Há também alguns lobisomens e outras criaturas. Imperdível.

Pena que esta temporada atual, 2011-2012, a série tenha ficado meio chatinha. Talvez seja o fim da era dos vampiros. Quem sabe, na próxima temporada, a história volte com mais força.

Avaliação:

História: A melhor de todas. O negócio do Doppelgänger estou tentando entender até hoje. Intrigante e interessante.

Regras: Vampiros podem caminhar na luz do sol graças a magia do Harry Potter. Brincadeira, mas é mais ou menos a mesma coisa. Tudo bem, esta parte é estranha, mas o resto ficou até bem legal. Há uma erva chamada Verbana que pode matar os vampiros, ou mais ou menos isso.

Vampiros: Mais complexos e mediamente humanos. Nem todos são pilantras, mas a maioria é. Stefan, o protagonista, não pode tomar sangue humano, pois quando isso acontece ele fica mais maluco que criança quando come muito açúcar.

Humanos: Menos babacas que a média. Mais ainda assim, babacas.

Protagonistas: Stefan e Elena são os melhores protagonistas de história de vampiro até hoje. Ainda há o  irmão Damon que também é um bom personagem.

Conclusão:

Parece que os vampiros vão continuar em alta por mais alguns anos. Pelo menos até o filme final do Crepúsculo (Breaking Down). Para quem não gosta de vampiros, uma boa notícia. Parece que o interesse pela ideia está diminuindo. Pode ser que tenhamos, dentro em breve, nossos perfis de facebook e emails inundados por abaixo-assinados de fãs pedindo para que não acabem com as séries. Mesmo que os dentes fiquem retraídos por algum tempo, as histórias de vampiros estão mesmo destinadas à imortalidade. Na dúvida, protejam seus pescoços!

A cola e a escola

Não sei se todos os leitores deste blogue sabem, mas sou professor do CEFET-RJ, do curso técnico de Eletrônica. Dou aulas para adolescentes, a maioria entre 15 e 18 anos.

Neste último semestre de 2011, tive um problema sério, mas não incomum, com um de meus alunos. Como deixa óbvio o título deste texto, descobri que houve cola nas provas.

Percebi que isso ocorreu também em pelo menos outras três disciplinas com o mesmo aluno. Em todas elas, o dito cujo utilizou-se de uma das mais conhecidas técnicas de cola. Nada que eu não tenha visto antes, mesmo em meus tempos de aluno.

O que gostaria de chamar a atenção é para a relevância do tema. Diversos alunos utilizam este subterfúgio e os professores muitas vezes nada podem fazer. Os que são flagrados usualmente não são punidos, apenas advertidos verbalmente.

Isso ocorre pois uma punição mais severa causaria diversos aborrecimentos ao professor. Como geralmente não há prova incontestável do ocorrido, qualquer pai de aluno poderia reclamar sobre a nota zero gerada pela punição. O problema fica ainda mais grave considerando que, em certos casos, uma grande parte da turma precisaria ser repreendida.

Na faculdade a cola muito se agrava. Mesmo seguindo a carreira que escolheram como profissão, muitos continuam durante todo o curso aplicando pequenos, e muitas vezes grandes golpes nas avaliações. A situação ficou calamitosa durante vários períodos da minha turma de Engenharia. Muitos alunos, mesmo os que não colavam, foram punidos ou prejudicados pelas providências tomadas pelos professores.

As três formas mais comuns de cola são a individual, a troca de informações entre os alunos e as fraudes. Existem técnicas, em cada caso, para que se possa diminuir ou impedir o uso deste expediente. Algumas delas sempre me recusei a utilizar, pois punem todos os alunos, honestos ou não. Vamos a elas:

1) Cola individual:




Neste tipo de ocorrência, o aluno leva escondido algo que não consegue memorizar ou aprender: anotações em pequenos pedaços de papel, na calculadora, na carteira, na mão ou em outros lugares inusitados. Aplicações coletivas deste método são também encontrados, como por exemplo fórmulas deixadas nas paredes das salas.

Este tipo de cola é geralmente pouco grave. Até hoje eu nunca puni um aluno que tivesse feito isso, e lembro apenas de um caso onde um professor aplicou reprimenda. Pode-se considerar que quando um aluno utiliza esta estratégia está apenas evitando que algum esquecimento repentino comprometa sua avaliação.

O excesso deste tipo de cola pode significar que há um problema na avaliação. Se o aluno pode levar um material escrito que o faça ganhar questões, então estamos promovendo demasiada memorização ao invés de entendimento de conceito. Passar a fazer provas com consulta pode ser a melhor ideia em certos casos. Já que querem colar, então pode-se permitir que levem qualquer material. Isso obviamente significa que a prova será mais difícil de ser bolada e corrigida.

Deixar correr frouxo este tipo de cola tem um péssimo efeito. Os alunos honestos ficarão com nota baixa e precisarão se esforçar mais para memorizar informações que precisam ser decoradas para prova.

2) Troca de informações de prova:

Neste tipo de cola um aluno recebe ilegalmente a informação de como deve fazer uma determinada questão ou mesmo a prova inteira. Pode ser em um papel amassado, um SMS no celular, uma conversa não detectada ou mesmo olhando-se a prova do colega diretamente. Em alguns casos, pode não ser tão grave, mas mesmo assim este tipo de cola deve ser evitada o máximo possível.

Alguns alunos tentam aplicar este golpe saindo de sala, para ir ao banheiro por exemplo, recebendo assim informações dos alunos que já terminaram o teste, ou de outros que sabem a matéria. Isso é bastante difícil de impedir se o professor está trabalhando sozinho.

Usando este tipo de expediente um aluno sem qualquer conhecimento na matéria pode tirar uma nota excelente. Pode atrapalhar muito os alunos que estão fazendo a avaliação, retirando a concentração e até diminuindo a nota. Não é tão incomum o aluno que recebe a cola acabar com uma nota superior ao que forneceu as informações.

Coibir este tipo de cola pode ser mais fácil em provas de ciências exatas. Pode-se modificar, por exemplo, algum dado inicial do problema para cada aluno e dificultar a troca de informações. O número da chamada ou posição na sala pode virar parte do problema, tornando único o resultado de cada questão.

Pode-se também fazer vários modelos de prova e distribuí-las sem qualquer aviso, deixando uma armadilha para os espertos caírem. Entretanto modelos diferentes de prova geralmente causam dificuldade na correção.

Uma outra técnica muito eficiente, mas extremamente agressiva, é fazer provas com apenas 30 a 45 minutos, não deixando tempo hábil para que a cola se espalhe. Isso logicamente causará problema para os alunos honestos também. Esta era a forma preferida de evitar cola utilizada pelos professores na faculdade de Engenharia.

Mudar a posição na sala pode também ser uma boa ideia. Ou seja, pode-se trocar de lugar alunos que, sabidamente, serão pontes de cola para a turma. Em casos extremos, o professor pode escolher sentar nas  últimas carteiras da sala, deixando os alunos de costas para ele. Assim a turma não saberá para onde o professor está olhando.

3) Fraudes:

Este tipo de cola é menos comum, e geralmente culpa do professor. Trata-se dos casos onde o aluno recebe a prova antes da aplicação. Os professores devem tomar absoluto cuidado no local onde tiram cópias de provas. Já vi acontecer várias vezes vazamentos mesmo nestes grandes locais de xerox.

Alguns alunos mais espertos podem perceber que o professor aplica a mesma prova em outra turma, ou mesmo em outra escola. Eticamente errado ou não, este pode ser um tipo comum de cola.

Certos professores repetem a mesma prova todos os anos mas não permitem que os alunos levem a correção para casa. Eventualmente, vaza-se uma cópia. Os alunos devem prestar atenção a este fato, pois podem ser prejudicados se o professor perceber que este tipo de cola está em curso, mesmo que não pareça haver nada errado nisso.

Conclusões:

Qualquer que seja o tipo de cola, os professores não devem ignorar este problema. O excesso do uso de qualquer técnica apresentada neste texto pode significar que a avaliação está mal feita ou mesmo que aquilo que está sendo ensinado pouco agrega ao aluno. Talvez a dificuldade seja excessiva ou então que as aulas não estejam sendo suficiente para a cobrança. A cola pode ser um indício que algo anda mal entre os alunos, ou mesmo que existe algum problema com o professor.

Mas mesmo que tudo esteja muito bem, sempre haverá um esperto tentando colar. O semestre que passou não foi o primeiro nem será o último em que isso ocorreu. Dar atenção a este tipo de problema é cansativo e toma tempo do professor, mas ainda é, infelizmente, o melhor remédio.