domingo, 22 de abril de 2012

A cola e a escola

Não sei se todos os leitores deste blogue sabem, mas sou professor do CEFET-RJ, do curso técnico de Eletrônica. Dou aulas para adolescentes, a maioria entre 15 e 18 anos.

Neste último semestre de 2011, tive um problema sério, mas não incomum, com um de meus alunos. Como deixa óbvio o título deste texto, descobri que houve cola nas provas.

Percebi que isso ocorreu também em pelo menos outras três disciplinas com o mesmo aluno. Em todas elas, o dito cujo utilizou-se de uma das mais conhecidas técnicas de cola. Nada que eu não tenha visto antes, mesmo em meus tempos de aluno.

O que gostaria de chamar a atenção é para a relevância do tema. Diversos alunos utilizam este subterfúgio e os professores muitas vezes nada podem fazer. Os que são flagrados usualmente não são punidos, apenas advertidos verbalmente.

Isso ocorre pois uma punição mais severa causaria diversos aborrecimentos ao professor. Como geralmente não há prova incontestável do ocorrido, qualquer pai de aluno poderia reclamar sobre a nota zero gerada pela punição. O problema fica ainda mais grave considerando que, em certos casos, uma grande parte da turma precisaria ser repreendida.

Na faculdade a cola muito se agrava. Mesmo seguindo a carreira que escolheram como profissão, muitos continuam durante todo o curso aplicando pequenos, e muitas vezes grandes golpes nas avaliações. A situação ficou calamitosa durante vários períodos da minha turma de Engenharia. Muitos alunos, mesmo os que não colavam, foram punidos ou prejudicados pelas providências tomadas pelos professores.

As três formas mais comuns de cola são a individual, a troca de informações entre os alunos e as fraudes. Existem técnicas, em cada caso, para que se possa diminuir ou impedir o uso deste expediente. Algumas delas sempre me recusei a utilizar, pois punem todos os alunos, honestos ou não. Vamos a elas:

1) Cola individual:




Neste tipo de ocorrência, o aluno leva escondido algo que não consegue memorizar ou aprender: anotações em pequenos pedaços de papel, na calculadora, na carteira, na mão ou em outros lugares inusitados. Aplicações coletivas deste método são também encontrados, como por exemplo fórmulas deixadas nas paredes das salas.

Este tipo de cola é geralmente pouco grave. Até hoje eu nunca puni um aluno que tivesse feito isso, e lembro apenas de um caso onde um professor aplicou reprimenda. Pode-se considerar que quando um aluno utiliza esta estratégia está apenas evitando que algum esquecimento repentino comprometa sua avaliação.

O excesso deste tipo de cola pode significar que há um problema na avaliação. Se o aluno pode levar um material escrito que o faça ganhar questões, então estamos promovendo demasiada memorização ao invés de entendimento de conceito. Passar a fazer provas com consulta pode ser a melhor ideia em certos casos. Já que querem colar, então pode-se permitir que levem qualquer material. Isso obviamente significa que a prova será mais difícil de ser bolada e corrigida.

Deixar correr frouxo este tipo de cola tem um péssimo efeito. Os alunos honestos ficarão com nota baixa e precisarão se esforçar mais para memorizar informações que precisam ser decoradas para prova.

2) Troca de informações de prova:

Neste tipo de cola um aluno recebe ilegalmente a informação de como deve fazer uma determinada questão ou mesmo a prova inteira. Pode ser em um papel amassado, um SMS no celular, uma conversa não detectada ou mesmo olhando-se a prova do colega diretamente. Em alguns casos, pode não ser tão grave, mas mesmo assim este tipo de cola deve ser evitada o máximo possível.

Alguns alunos tentam aplicar este golpe saindo de sala, para ir ao banheiro por exemplo, recebendo assim informações dos alunos que já terminaram o teste, ou de outros que sabem a matéria. Isso é bastante difícil de impedir se o professor está trabalhando sozinho.

Usando este tipo de expediente um aluno sem qualquer conhecimento na matéria pode tirar uma nota excelente. Pode atrapalhar muito os alunos que estão fazendo a avaliação, retirando a concentração e até diminuindo a nota. Não é tão incomum o aluno que recebe a cola acabar com uma nota superior ao que forneceu as informações.

Coibir este tipo de cola pode ser mais fácil em provas de ciências exatas. Pode-se modificar, por exemplo, algum dado inicial do problema para cada aluno e dificultar a troca de informações. O número da chamada ou posição na sala pode virar parte do problema, tornando único o resultado de cada questão.

Pode-se também fazer vários modelos de prova e distribuí-las sem qualquer aviso, deixando uma armadilha para os espertos caírem. Entretanto modelos diferentes de prova geralmente causam dificuldade na correção.

Uma outra técnica muito eficiente, mas extremamente agressiva, é fazer provas com apenas 30 a 45 minutos, não deixando tempo hábil para que a cola se espalhe. Isso logicamente causará problema para os alunos honestos também. Esta era a forma preferida de evitar cola utilizada pelos professores na faculdade de Engenharia.

Mudar a posição na sala pode também ser uma boa ideia. Ou seja, pode-se trocar de lugar alunos que, sabidamente, serão pontes de cola para a turma. Em casos extremos, o professor pode escolher sentar nas  últimas carteiras da sala, deixando os alunos de costas para ele. Assim a turma não saberá para onde o professor está olhando.

3) Fraudes:

Este tipo de cola é menos comum, e geralmente culpa do professor. Trata-se dos casos onde o aluno recebe a prova antes da aplicação. Os professores devem tomar absoluto cuidado no local onde tiram cópias de provas. Já vi acontecer várias vezes vazamentos mesmo nestes grandes locais de xerox.

Alguns alunos mais espertos podem perceber que o professor aplica a mesma prova em outra turma, ou mesmo em outra escola. Eticamente errado ou não, este pode ser um tipo comum de cola.

Certos professores repetem a mesma prova todos os anos mas não permitem que os alunos levem a correção para casa. Eventualmente, vaza-se uma cópia. Os alunos devem prestar atenção a este fato, pois podem ser prejudicados se o professor perceber que este tipo de cola está em curso, mesmo que não pareça haver nada errado nisso.

Conclusões:

Qualquer que seja o tipo de cola, os professores não devem ignorar este problema. O excesso do uso de qualquer técnica apresentada neste texto pode significar que a avaliação está mal feita ou mesmo que aquilo que está sendo ensinado pouco agrega ao aluno. Talvez a dificuldade seja excessiva ou então que as aulas não estejam sendo suficiente para a cobrança. A cola pode ser um indício que algo anda mal entre os alunos, ou mesmo que existe algum problema com o professor.

Mas mesmo que tudo esteja muito bem, sempre haverá um esperto tentando colar. O semestre que passou não foi o primeiro nem será o último em que isso ocorreu. Dar atenção a este tipo de problema é cansativo e toma tempo do professor, mas ainda é, infelizmente, o melhor remédio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Professor, fui seu aluno e estava no sexto periodo no fim do ano passado e nas suas provas, apesar de ser facil colar, nunca precisei ate mesmo porque a sua estrategia de resolver as provas anteriores uma aula antes da prova funciona e ajuda muito. Mas confesso que nas provas de sistemas de televisao do Milton e do Gouvea e principalmente nas de sistemas de telecom do Zé Mauro colar era quase questao de sobrevivencia porque sao provas que exigem muita memorizaçao de informaçoes.